sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A história da escolinha pelos olhos do professor Inivaldo Mila

           Segundo o pioneiro Paulo Ferreira Castro, muitas famílias chegavam às terras onde atualmente é São José dos Quatro Marcos. E as famílias, principalmente as que tinham mais filhos, passaram a se preocupar com o futuro deles. Como tudo era mato, o acesso à Cáceres era difícil e os filhos precisavam estudar.
           Foi então que algumas famílias, lideradas por José Rosa e Valdemar Carvalho (irmão do Indalécio), criaram a ideia de se ter uma escola na localidade para educar seus filhos. Além das famílias dos dois líderes, o grupo era composto pelas famílias de Geraldo (pai do seo Fidelis), Maurício Simeão Gouveia, Gerônimo Prata (sogro do seo Fidelis), Gerônimo Marangão e Antônio Murilia.
           Como já existia um ditado entre as famílias das redondezas, os encontros se davam nos quatro marcos (local de cruzamento de duas picadas que tinham quatro marcos de balizamento das terras de Zeferino José de Matos, Miguel Barbosa do Nascimento e Luiz Barbosa). Paulo Castro lembrou que jogos de futebol, caçadas, pescarias, corretores de vendas de terras, entre outros, marcavam seus encontros nessa localidade dos balizamentos. E foi ali, o local escolhido para as famílias construírem uma escolinha para seus filhos estudarem.
           Inivaldo Mila, o professor que não desistiu, recordou que vieram em 1966 para a região de São José dos Quatro Marcos para plantar café, num sítio que seu pai havia adquirido. Segundo ele, era só mato. E a escolinha era numa esquina. E tinha um campinho. E a localidade era derrubado novo. O resto era só mato. Ele chegou a frisar que não havia mais nada, a não ser mato na região.
           Os relatos do professor Inivaldo lembra que já havia um significativo número de famílias residindo pela região e que as crianças não iam para a escola por falta de professor, ninguém queria dar aulas, e, por isso, a escolinha estava fechada. “Os pais das crianças ficaram sabendo que eu tinha estudo e me convidaram para dar aulas; eu fiquei surpreso porque eu nunca pensei em dar aulas, mas aceitei”.
           A escola, segundo Inivaldo, era feita de pau-a-pique, barreada e coberta de tabuinhas. Ela tinha lousa e mesa de tábuas rústicas e os bancos eram fincados no chão. Chamava-se Escola Rural Mista Duque de Caxias, onde mais de trinta meninos e meninas, de primeira à quarta séries, estudavam juntos, já que a escolinha tinha sala única.
A escolinha, os professores e os alunos em 1967.
Para assumir a sala de aulas, Inivaldo Mila precisou fazer um curso para ser professor habilitado. E fez um curso de férias. Assim, em 1967 a escolinha foi reaberta. E como o número de crianças era muito grande, ele convidou uma moradora de nome Maria Luiza Barbosa Alfredo para auxiliá-lo. E dividiram as séries. Mila ficou com as crianças da 3ª e 4ª séries, no período matutino e Maria Luiza com as crianças da 1ª e 2ª séries, no período vespertino. Mila tinha estudado até a 4ª série e Maria Luiza até a 3ª série.
Os professores Maria Luiza e Inivaldo Mila
         Inivaldo Mila e Maria Luiza Barbosa Alfredo deram aulas por quatro anos. Mila buscava material pedagógico em Cáceres. Até o salário buscava em Cáceres a cada três meses, devido às dificuldades de locomoção. As matérias lecionadas eram língua portuguesa, matemática, ciências e educação moral e cívica. Tudo com ênfase na leitura e escrita. Era tudo noção básica que deveriam sair da escola sabendo.
         Para Inivaldo, “todo mundo queria aprender, todos vinham para aprender mesmo. Era povo simples, humilde, era gente da roça. E não tinha desistência, não. Estudavam até o exame fina, que era um apanhado de todas as coisas que foram dadas durante o ano. A prova vinha de Cáceres, era elaborada pelo delegado de ensino, e como eu que buscava os materiais da escola, eu que aplicava o exame aqui”.
         Os alunos concluíram a 4ª série e ficaram três anos sem aulas por falta de professor acima dessa série. Mas em 1973 chega à região, os irmãos Lessi. Desta feita, Maria Lessi e José Lessi, professores formados no estado de São Paulo, assumem as aulas de 5ª à 8ª séries.
José Lessi,em 2010, comentou sobre sua chegada ao município 
Maria Lessi,em 2010, comentou sobre sua chegada ao município

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