sábado, 28 de julho de 2018

Show de beleza e harmonia nas festas de aniversário do passado

         As festividades culturais do aniversário de São José dos Quatro Marcos, com shows de beleza de seu povo nos desfiles, a harmonia das fanfarras perfiladas e a ostentação orgulhosa de suas riquezas, tradições e costumes expressados nos carros alegóricos remontam dos anos de fundação.
         Essas deslumbrantes comemorações cívicas, após a emancipação política, passaram também a expressar intrinsecamente os sonhos e as cobranças da população para as autoridades. Eram manifestações belas, preparadas com patriotismo. Até a presença do governador do Estado e sua equipe era presença certa todos os anos.
Passagem de carro alegórico em frente ao palanque das autoridades
         Cada grupo se preocupava em organizar alguma coisa. Se envolviam nas festividades cívicas as autoridades, clubes de serviços, associações, sindicatos, munícipes, comunidade educacional com seus funcionários, diretores, professores e alunos. Era tudo por amor ao município. As pessoas se doavam com emoção e a população curtia cada momento único nas ruas, avenidas e entorno da Praça dos Bandeirantes. E depois tinham estórias para contar e comentar até o ano seguinte.
         A evolução das fanfarras com seus trajes de gala, as alegorias apresentadas e o entusiasmo da população presente, que mesmo sob um sol escaldante prestigiavam e não arredavam o pé até a última apresentação, deixavam bem claro o tamanho do patriotismo e civismo daquele povo. Várias das apresentações levavam o público ao delírio, pela beleza e harmonia e pelas alegorias requintadas questionando a sociedade com a relevância de seu tema.
Passagem da fanfarra em frente ao palanque das autoridades
         As reivindicações eram sutis e diretas, buscando mexer com a consciência do homem sobre assuntos de suma importância para a sociedade como Educação, Saúde, crianças carentes e abandonadas, produção agrícola e preservação do meio ambiente. Essas cobranças garantiam o cunho educativo e aproximava o povo quatromarquense de sua própria história de luta, de sofrimento, mas também de solidariedade, de hospitalidade e de cidadãos de bem.
         As autoridades presentes assistiam a tudo de cima de um palanque e em seus discursos comprometiam-se com o desenvolvimento socioeconômico e cultural, sensibilizados pela manifestação espontânea de uma comunidade que buscava com fé e trabalho garantir um futuro melhor para suas crianças. Para que entendessem bem a mensagem cada equipe de alegoria, fanfarra ou grupo de pessoas desfilando, preparava um resumo da sua apresentação, a qual era narrada por um locutor no momento da passagem pelo palanque central.
         As comemorações tinham duração de três dias. Começavam com os cultos ecumênicos e congraçamento entre todas as igrejas do município e terminava com a realização da Corrida da Juventude. Durante o transcorrer das atividades a participação da população era incontestável. Ela ajudava os organizadores num clima de solidariedade, para que essa data marcasse definitivamente no íntimo do cidadão a crença na pujança desse município. Eles tinham a certeza de que São José dos Quatro Marcos caminhava para um futuro grandioso de progresso. Enfim, eles faziam a parte deles para que isso realmente acontecesse no futuro.
Passagem de alegoria em frente ao palanque das autoridades

sexta-feira, 27 de julho de 2018

A Independência de Quatro Marcos pelos olhos de Antônio Alvarez

         O processo de desenvolvimento de São José dos Quatro Marcos toma impulso em 1969 com a chegada de Antônio Alvarez. Com atitudes empreendedoras inaugura a primeira indústria para exploração e comercialização de madeira. Em seguida, funda a primeira empresa de transporte coletivo, a Expresso Palmeiras que posteriormente deu origem à empresa de ônibus TransJaó para atuar no transporte de pessoas pela região.
         Em 1972 foi eleito vereador por Cáceres para representar os interesses da população de São José dos Quatro Marcos. Mas foi em 1974 que junto com os senhores Primo Paro, João Pavim, Wilson Rigota, José Paro, Walter Rigota, Paulo Queiroz, Zeferino José de Matos, José Rosa Paes, João Guevara, José Antônio Lima e tanto outros, fundaram a Associação dos Amigos de São José dos Quatro Marcos. Alvarez assume a presidência da associação, desencadeando uma ferrenha campanha para a emancipação do município.
         Para a associação São José dos Quatro Marcos tinha todo o direito de se emancipar, inclusive porque os levantamentos que fizeram apontavam que o número de habitantes local era superior ao número de habitantes de Mirassol D´Oeste, mas mesmo assim, encontrava verdadeira resistência do município vizinho à sua pretensão de independência.
         Num processo polêmico e com uma batalha política acirrada a emancipação foi garantida através de um projeto de lei do deputado estadual Aldo Ribeiro Borges, que fizera o compromisso com a população de São José dos Quatro Marcos. Aldo Borges prometera que se a população o apoiasse politicamente, ele apresentaria o projeto de criação do município e o defenderia na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. O acordo garantiu a totalidade dos votos da população a Aldo Borges.
         Emancipado em 1979 o município de São José dos Quatro Marcos teve o seu primeiro prefeito nomeado pelo governador do Estado Frederico Carlos Soares Campos (1979 - 1983), que foi Antônio Alvarez. Ele assumiu o posto sem ter estrutura física e material para funcionamento da Prefeitura. Funcionando provisoriamente em prédio e instalações do Lions Clube, cedidas pelo seu presidente Gilson Alexandre de Alvim Coimbra, a primeira obra foi o levantamento das divisas do município feito pelo Instituto Nacional de Colonização e reforma Agrária (Incra), seguida de construção de estradas, escolas e centro de saúde.
         O enquadramento do município no programa do Polo-Noroeste deu um grande impulso para o desenvolvimento econômico. Na primeira administração foram inauguradas as agências dos bancos do Brasil, Bemat, Caixa Econômica Federal e ainda a Telemat e os Correios. Assim, o município estava sendo preparado para crescer e se desenvolver.
Ato de nomeação do Administrador Antônio Alvarez, 1981

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Surgem as contribuições no caminho do desenvolvimento

         Duas pessoas que também tiveram seus nomes arraigados na história de São José dos Quatro Marcos foi Manoel Paulino Gomes, natural de Sebastianópolis – SP e Antônio Alvarez, natural de José Bonifácio – SP.
         Manoel Paulino comprou, com o pai, uma área de terras da Colonizadora Paulo Mendonça, em 1961. Em maio de 1964 ele veio à Gleba Mirassol localizar sua área de terras e já em outubro desse mesmo ano, muda-se definitivamente para a região. Inicialmente ele estabeleceu-se na currutela de Mirassol D´Oeste, onde abriu um armazém para comércio de produtos de secos e molhados.
         Com a chegada de colonos para a região de São José dos Quatro Marcos, Manoel Paulino abre uma filial de seu armazém (o primeiro) para a venda de mantimentos e ferramentas de trabalho. Assim, ele estava dando o primeiro passo para a expansão comercial na região.
         De 1966 a 1967 foi nomeado pelo delegado regional de Cáceres como delegado de polícia em Mirassol D´Oeste. Essa era ainda a época em que os detentos eram presos pelos pés em uma corrente fixada nas árvores.
         Manoel Paulino também se aventurou na política, sendo candidato a vereador, participando ativamente no processo de emancipação de São José dos Quatro Marcos. Foi ele o doador do terreno que abriga o recinto da Festa do Peão. Como comerciante e cidadão quatromarquense contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento do município.
Vista aérea do Recinto de Festas do Peão de Quatro Marcos
         Já Antônio Alvarez deu sua maior parte contributiva pelo campo da política, além de ter sido um empreendedor de industrialização de madeira. Se torna vereador por Cáceres, representando a região de São José dos Quatro Marcos; participada da criação de uma associação empreendedora com foco no desenvolvimento local; participa ativamente do processo de emancipação e se torna o administrador nomeado pelo governador do Estado para dirigir os destinos do município, enquanto não se acontece o processo para eleição do primeiro prefeito eleito.
Antônio Alvarez, Luiz Barboza e Padre Georges em 1978

A concretização do sonho de construir uma cidade

         Com a chegada de Zeferino José de Matos na região, piauiense nascido em 26 de agosto de 1908, proprietário de duas áreas de terras delimitadas por dois dos quatro marcos, toma impulso e emerge, de fato, o sonho de se construir uma cidade no meio da mata. Zeferino e seu filho Nilze José de Matos limparam o primeiro lote e retornando para casa conta à família que tinha vislumbrado uma grande cidade no local.
         Os trabalhos continuaram e o tempo foi passando. Vendendo e doando lotes Zeferino alimentava o sonho e objetivo de construção da nova cidade. Várias obras foram viabilizadas por Zeferino. Construção de colégio, praça, instalação do posto de Correios e a maioria das edificações públicas tiveram o terreno doado por Zeferino.
         Ele também dava assistência aos moradores da região, pagava do próprio bolso o salário do primeiro professor da escolinha, o qual depois desistiu, e ainda transportava os doentes em veículos de sua propriedade. Assim, Zeferino concretizou vários sonhos: viu a cidade crescer e presenciou sua emancipação; construiu o primeiro prédio e participou ativamente de todas as grandes conquistas do seu povo.
         Somente duas coisas esse bravo brasileiro não conseguiu realizar: ser prefeito da cidade que fundou, devido a problemas de saúde e seu estado avançado de idade, e ver finalmente a comarca de São José dos Quatro Marcos ser instalada.
Autoridades, Zeferino e Antônio Alvarez na década de 1980

O sonho de ver nascer São José do Paraíso

         O jornalista Luiz Carlos Bordin estava no início de sua carreira quando o pioneiro José Rosa Paes, Manoel Paulino, Zeferino José de Matos e Antônio Alvarez foram entrevistados para um especial sobre o município de São José dos Quatro Marcos que seria publicado na edição nº 01 do jornal local Voz Popular, que circularia no dia 15 de junho de 1991, em comemoração ao 24º aniversário de Fundação do Município.
         Foi no ano de 1964 que desembarcou no meio da mata virgem o senhor José Rosa Paes, 45 anos de idade, com toda a sua família, para fixar residência e trabalhar a terra na área que na época tinha o nome de Gleba Mirassol. Casado com Cinércia Lopes de Campos, veio com a determinação de aqui ficar e criar seus filhos.
         Chegando a Mirassol D´Oeste foi aconselhado que ali é que deveria estabelecer-se, visto que logo adiante, na Gleba Mirassol, só havia mato. José Rosa Paes não esmoreceu e posteriormente, com a informação dada por seu irmão Júlio Paes Landim, auxiliar do engenheiro Nelson Clementino, que fazia a medição e estabelecia os lotes, de que a terra era farta e fértil, encheu um tambor de 200 litros de água e seguiu em frente.
         Seis homens equipados de foice e machado abriram um carreador para passagem do caminhão com sua mudança. Chegando no local escolhido e necessitando de água, José Rosa Paes abriu o primeiro poço e construiu sua residência que ficavam na área de propriedade de Miguel Barbosa do Nascimento, para o qual trabalhava e começou a derrubada da mata para a formação da roça que garantiria o sustento de sua família.
Primeira casa construída por José Rosa Paes na Gleba Mirassol
         Em pouco tempo outras famílias já haviam se estabelecido nas imediações e tornou-se imprescindível a preocupação com a educação dos filhos. Então formaram uma comissão e foram a Cáceres, sede do município, pedir ajuda das autoridades que exigiram a construção de uma escola e a matrícula de no mínimo 25 crianças.
         Carregando madeira nos ombros, iniciaram a construção da escola, cobrindo-a com tábuas. Participaram dessa empreitada José Rosa Paes, Waldemar Carvalho e Gerônimo Marangão, contando ainda com a colaboração de muitos outros moradores e proprietários de terra.
         No meio a esse trabalho todo e com a falta de um “bolicho” para fazerem suas compras, os homens envolvidos na construção da escola começaram a antever o nascimento de uma vila e começaram a indagar qual seria o nome que melhor se adequaria. Então José Rosa Paes e Jerônimo Marangão chegaram a um acordo: São José do Paraíso. O nome do santo São José era devido ao nome de José Rosa. E Paraíso porque Marangão queria homenagear a exuberância e fertilidade do local.
         Mas outra necessidade se fazia premente. Deformação católica e devotos de São José, os moradores começaram a construir a primeira capela da região e que teve como altar um toco de árvore “garapeira”. Antes, porém, receberam a visita do padre Amadeus, que além de rezar a primeira missa fez os primeiros batizados e casamentos dos pioneiros. Foram batizados Arlindo Mazete de Carvalho e Izabel e casaram-se Arquimedes e Dona Helena.
         Em seguida, José Rosa Paes vai a Cáceres e pede ao pároco que inaugure a igreja recém-construída pela comunidade. Padre Elias vem e fica fascinado pela organização e beleza da obra coberta de telhas francesas, cobertura essa que era uma raridade na região.
         Com a sugestão de Padre Elias, já que à época havia se propagado o nome o nome de Quatro Marcos, ponto de referência dos limites das áreas de terras de propriedade de Miguel Barbosa do Nascimento, Luiz Barbosa e Zeferino José de Matos ficou estabelecido o nome de São José dos Quatro Marcos. Apesar do lugar ter um nome apenas como comunidade religiosa, o sonho de se ter uma cidade já vinha sendo cogitado por Zeferino José de Matos.
José Rosa Paes e a esposa Cinércia Lopes de Campos